domingo, 1 de março de 2015

Mais um pedaço de carne

É como ir a um açougue. Tem uma vitrine e por trás dela, tem as peças penduradas num gancho. Dá pra você averiguar a qualidade da carne, escolher entre a mais magra ou gordurosa, a mais clara ou a mais escura, a mais macia ou a mais musculosa. Se quiser, dá até pra pedir para tirar do gancho e dar uma apalpada pra ver se tá boa e, digo mais, comer mulher é melhor que qualquer outra coisa! Por isso não se assuste quando um vegetariano dizer que se sente no açougue quando vai comprar uma mulher.
– Essa não, eu prefiro uma pele mais amarelada.
– Japonesas? – Nem mencionei o fato de algumas japonesas terem a pele branca.
– Não. Prefiro coreanas. É fácil encontrar japonesas, mas faz algum tempo que quero comer coreanas e não encontro...
– Entendo, eu tenho algo com olho puxado aqui, mas não sabemos exatamente sua origem, pelo fato de ela ser adotada.
– Interessante, me mostre por gentileza.
– Me acompanhe – ela virou num giro aparecendo a marca da calcinha sob a saia lápis preta.
– Nossa, me desculpa, mas que bunda maravilhosa a sua... – ela riu alto enquanto andava rebolando – Confesso que se você estivesse à venda, eu a compraria...
– Pena eu não estar à venda, moço...
– Uma coisa maravilhosa como você, não estaria. É inteligente o suficiente para não precisar se humilhar.
– Não sei se inteligente o suficiente, mas sei que não sou tão submissa aos homens a ponto de me vender como mercadoria... – Parou neste momento em frente à vitrine em que estava a moça asiática e, por sorte, era coreana, mas com nome de brasileira, claro.
Contemplei a bela jovem que vestia uma sensual lingerie branca, sem rendas. Dançava lentamente sentada, abrindo as pernas e pressionando as próprias coxas.
– Mas é claro que não.
– Não o quê? – Ela perguntou.
– Claro que não é uma mercadoria, você, eu digo. – Apontei e sorri para a vendedora – Pois se vende apenas a aparência, a essência ninguém compra, e você é mais que o aparente, tenho certeza.
– Como tem? – Ela parecia se divertir com a conversa.
– Tenho porque você não está numa vitrine dessa, – apontei com um gesto de cabeça – então tem algo a mais para oferecer.
– Mas e se eu não estou à venda por falta de qualidades? – Indagou desafiadora.
– Neste caso, a qualidade que lhe faltaria, era reconhecer que as mulheres não precisam ser colocar numa vitrine como pedaço de carne pronto pra ser consumido. – Sorri com escárnio.
– “Meu corpo, minhas regras” – deu de ombros levantando a sobrancelha.
– “Meu dinheiro, seus corpos” – sorri largo.
Ficamos em silêncio e quis quebrar o gelo:
– Deixa eu ver a bunda dela.
A vendedora se aproximou da mercadoria e pediu que mostrasse as nádegas, apenas a vendedora pode executar um comando enquanto a mulher não foi comprada. Então, ela se pôs de quatro mostrando bunda e pacote volumoso. Se eu quisesse ver o melhor, era necessário comprar, estratégia do ramo.
– Que beleza! Quero ver ela em pé. – Deu o comando e assim ela ficou, sensualizou de frente e de costas. Uma coisa incrível, a qual procurava há meses.
– É a coreana que queria?
– Não, essa é tailandesa, mas tão fantástica quanto a que desejava... Qual a condição sanguínea dela?
A moça acessou os dados na mesma vitrine, pesquisou por um momento e:
– Negativo, já teve gonorreia e sífilis, ambas tratadas com sucesso. Imune a HIV e HPV.
– Ótimo – balancei a cabeça. – Quanto que é o mês dela?
– Um momento. – Mostrou o valor na vitrine para que a moça não visse nem ouvisse.
– Se eu quiser trazer em uma ou duas semanas?
– É o mesmo valor, no caso a diferença entraria como multa.
– Entendi. Caso eu queira comprar essa beldade? – Ela entendeu a conotação.
– É aquele valor multiplicado por 150, acrescido de 50%.
– Ui.... – Mostrou o valor na vitrine no painel eletrônico.
– E você teria que assinar um termo de responsabilidade sobre a mulher. Alimentação, vestimenta, lazer, esses tipos de coisas.
– Sei, sei, sei como é. Acho que foi o melhor costume que importamos dos muçulmanos – ri para ela.
– Antes tivéssemos importado o costume de não usar álcool.
– Antes isso, também não gosto de álcool, mas, aos poucos, trocam esse vício pela matrix, e não sei qual dos dois é mais nocivo. – Ela deixou a conversa fluir, afinal era uma vendedora e seu trabalho era vender, isso incluía ouvir minhas asneiras, então continuei:
– Sabe? Fico imaginando se um dia a matrix substituíra isso...
– Isso?
– Isso aqui! – Abri os braços.
– O mundo?
– Não! As mulheres, oras! O que mais poderia me causar mais terror que androides e transas virtuais? 
– Por acaso já experimentou? – Brincou ela, conhecendo meu humor.
– Sim! Foi horrível – ri para ela. – Horrível! Uma coisa tão magnífica como a mulher não pode ser substituída. Olha que coisa maravilhosa essa tailandesa! Se existe algo de divino no mundo são as mulheres.
– E ainda acha que são um pedaço de carne?
– Não, mas estão nele. A diferença eu já disse, algumas sabem que são divinas, outras não, ao menos não se sentem. Enfim, quero levar ela, você a apronta em quantos minutos?
– Ah, bem rápido, menos de cinco minutos, estou tirando o pedido aqui para você, só fazer o pagamento aqui na tela.
– Tudo bem. – Estava finalizando o pedido e apareceu os termos de uso junto com o valor da compra, ao lado coloquei meu polegar e apareceu meu nome com as formas de pagamento.
 Neste momento minha tailandesa estava saindo da vitrine para se vestir e me perdi naquele rebolado.
           
***

Estávamos no automóvel quando ouvi aquela voz gostosa.
– Estou com fome... Tem um restaurante muito bom aqui perto.
– Ah é? – Perguntei.
– Sim, comida japonesa. Você gosta?
– Gosto sim, mas eu queria fazer alguma coisa antes, sabe? – Sorri para ela e ela também sorriu.
–- Sei, mas não acha melhor jantarmos mesmo assim? – Acariciou minha coxa, próximo a virilha enquanto perguntava com aquela voz de anjo.
– Não sei – resmunguei.
– E se eu te fizer um carinho, então? – Ela desceu a mão para meu saco e subiu para acariciar o pênis ereto, depois caiu de boca em cima, descendo minhas calças, apenas o suficiente para surgir o pinto.
Chupou com vigor e carinho, massageando os testículos e apertando minhas coxas, parecia não se cansar de chupar, engolia tudo e depois soltava com grande destreza para voltar numa gostosa lambida. Por vezes ouvi buzinas tocarem no semáforo aberto. Olhei os cabelos negros dela que subiam e desciam com o movimento da cabeça, senti um arrepio ao lembrar do que conversara com a vendedora e me perguntar o quanto aquilo, aquela mulher, parecia um androide. Meu pênis amoleceu aos poucos na boca dela com este macabro devaneio. Estávamos quase em frente ao restaurante. Androides não comem, alguns sim, em geral não... Tentei parar de pensar nisso.
Tentei me concentrar na comida, no sashimi de salmão, não no rosto maravilhoso dela, no entanto, não consegui, estava muito bem maquiada, vestida para um jantar daqueles. Como queria ter visto aquela boquinha me chupando, até o mastigar dela era lascivo, estava excitado só de ver o mexer dos lábios dela.
De repente, ela para, limpa os lábios e começa a falar comigo:
– Eu sou um ser humano também, não sou um pedaço de carne. – Fiz uma cara de confuso, ela falava com uma voz calma e continuou:
– Ouvi o que você falou lá na loja. Mas eu também sinto, eu queria ser algo mais, só que não consigo, sou boa em me prostituir, em mentir, fingir, atuar. Isso é o que sei fazer... – Cortei ela antes que continuasse, na mesma voz calma que a dela repliquei:
– Cala a boca. Não tenho pena de você, você tá aqui pelo dinheiro fácil. Porque prefere viver no luxo do que de migalhas. Você é mesquinha, garota. Se aproveita de sua beleza natural para pegar dinheiro de homem burro como eu. – Mastiguei um filé com shoyo enquanto me ouvia sem espanto e calada.
– Digo mais. Sou eu quem vende meu dinheiro para você pagar com a buceta. Então não finja ser um anjo. Aquela empresa não te obrigou a se prostituir. Você se prostitui para ter grana, viver bem, então não vem com esse papo furado, o que lhe falta é amor a si mesma. Você é apenas um pedaço de carne mesmo.
– Você é machista como todos os homens – replicou com voz taciturna.
– Você se vende, se posta como uma mercadoria e eu quem sou machista? Aliás, já vamos embora, porque eu não comprei você pra ficar de papo. Como bom machista quero você só para comer.
Ficou me encarando com os hashis parados e comentou:
– Posso ao menos terminar de comer?
Olhei consternado para ela.
– Que foi? Eu vou transar com você, só me deixa terminar de comer, você quer uma mulher indisposta? Não, né?
– Tudo bem... Desculpa se fui rude – Sorriu com compaixão para mim, fazendo o melhor que sabia fazer.
– Não se preocupa, lindo. A gente vai transar gostoso, sim – tocou minha perna e beijou meus lábios num selinhos, emendando em seguida:
– Podemos ir no cinema depois?
– Claro, aonde você quiser!
           
***

Meu pau não é tão grande para dar todo aquele prazer que ela fingiu, mesmo que tivesse enfiado no cu dela, não seria grande o suficiente para soltar um suspiro, não para o oco de prostituta que ela tem.
Agora ela está quieta do meu lado, ela queria um cinema, não queria? Então quero ver até que ponto ela é um pedaço de carne desmiolado que me obedece. Toquei o veículo para fora da zona rica da cidade.
 – Não íamos assistir um filme?
Acho que androides não temem a morte, ela estava tranquila na voz, sem demostrar medo, mas apenas curiosa para saber se nosso destino havia mudado, não sei por que outra vez estava pensando sobre robôs.
– Sim, estamos indo.
– Ah, é?
– Sim, estamos indo para um lugar aí. Passa uns filmes que eu gosto. Não se importa, não é? Afinal você também está aqui para isso....
Tocou minha coxa e sussurrou ao meu lado:
– Estou aqui para fazer o que quiser... – tinha um timbre gostoso, não pude deixar de olhar para ela e lembrar que a vinte minutos atrás, fodia aquela buceta tailandesa. Sorriu para o quanto meus olhos estavam perdidos nela.
– Que filme mesmo iremos assistir?
Subconsciência cruel.
– Hmm... Ainda não ouvi falar, lançamento? É de terror? Gosto de filmes de terror. Parece ser legal.
Ri conforme ia fazendo tantas perguntas entusiasmada.
– Não é de terror... – me interrompeu agarrando meu braço:
– Suspense!
– Não, não é suspense.
Thriller? Já sei, gore!
Gore? – Perguntei espantado. Ela deu de ombros sorrindo.
– É gore, sim. – Continuei. – Como sabia? Gosta de filmes gore? É bem antigo...
– Acho que com esse nome foi o que sobrou – riu outra vez, mas eu esbocei meio riso.
Pensei em como ela poderia conhecer gore, um subgênero esquecido há algum tempo, que nunca foi popular... tenho que parar de pensar que prostitutas são androides, afinal é possível sim uma asiática ter uma grande e bela bunda sem estrias nem celulite. Nem estou lembrando por qual motivo a trouxe aqui.  Por que fazer isso? Por que estou pagando ela e se eu quiser que ela se sinta mal com um filme, faz parte do contrato?
 Fiquei com o automóvel na frente do cinema com jovens de roupa preta fumando e bebendo para o lado de fora.
– Você está bem?
Saí do meu devaneio.
– Você fuma maconha?
– Sim, eu gosto.

***

Transar drogado de THC é a melhor coisa. Melhor que mescalina ou qualquer outro ácido. Conseguia sentir com perfeição o gosto da boca dela, e sua vagina fazia escapar meu pênis de tão lubrificada, desta vez pareceu sentir prazer de verdade, pediu para que comesse o cu dela e também comi, gemeu e disse maiores mentiras que da última vez.
 Pensei em como seria um mundo que não se pudesse distinguir androides de humanos, um mundo em que não se sabe o limite do que pode ser humano ou não. Aquilo só me parecia um robô controlado por comando de voz, fazia tudo o que eu mandava e enxergá-la como humana estava sendo difícil, era como se eu cultuasse um objeto. Como se estivesse comendo um filé fresco e suculento com garfo e faca, você sabe que o filé não sente nada ao ser mastigado ou comido, ele não sente o prazer em seus nervos ou qualquer sensibilidade dentro de sua boca, é só um pedaço de carne sendo saboreado.
Enquanto pensava, deitou nos meus braços nua, parecia uma deusa budista, beijei cada pedaço daquele corpo, meu pau ainda teso sendo roçado em suas coxas. Senti fome por conta do efeito da maconha, fome e mais desejo.
Então pedimos pizza e comemos nus na sala de visita, saciávamos a fome e ficamos exaustos pelo processo de digestão, sentiu sono imitando meu bocejo e disse que queria dormir na cama comigo.
– Vem, meu lindo. Você não quer ferrar de novo com sua tailandesa?
Eu estava fatigado demais, mesmo que ela tivesse dado o máximo no sexo, cavalgando com destreza sobre mim. Então, ela deitou no sofá junto a mim, me abraçou e encostou a cabeça em meu peito.
Apreciei cada centímetro daquele corpo esguio e ostentoso, que faria qualquer homem babar como um cão e se tornar um escravo por aquele pedaço de carne. Afaguei os lindos cabelos negros dela e atrás de sua orelha havia um código em relevo... Uma série de números pequeninos, me perguntei se ela estava sonhando com ovelhas elétricas.

           17/12/2014


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